quinta-feira, 24 de julho de 2008

Os odeio...

Os odeio todos... com um ódio carnal de quem quer rasgar o outro. Canibal, os devoro todos de uma só vez, pois sois iguais. Iguarias são para poucas. Mas perdão! Falo com lábios de ódio, sei bem que sois diferentes em volúpia, carícias, cuidados, egoísmos, cada um com sua percentagem. Já os toquei com mãos delicadas de quem seduz, agressivas, de quem deseja, carinhosas, de quem acalenta. Também já fui tocada por muitas de suas mãos, conheço os seus aspectos mais imbecis, mais brutais, mais murchos. Sei bem, portanto, que os odeio todos! Não me toquem, não me olhem! Mas bem, o contrário do amor não é o ódio! E eu jamais poderia ser indiferente a essas mãos que em momentos me deliciaram, em outros me sugaram a vida, em outros me acalentaram! Como mulher, os amo e os odeio desde o primeiro toque de suas mãos, que me acalentaram quando ainda nem sonhava em querer ser rasgada por elas.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Garrafas, cigarros, olhares, nada....

E o que me resta?? Umas garrafas de Red Bull soltas no chão do meu carro, cacos de vidro com letras da palavra Smirnoff soltos bolando de um lado para o outro. Algumas lembranças, risadas, besteiras feitas, besteiras faladas, era isso que eu queria ter? Aquele lugar cheio de pessoas, como diria Chico “cada um no seu canto em cada canto uma dor”, mas espere, ali não há dor, é o próprio paraíso sobre o solo da terra. Mas o que era mesmo que eu queria? O que foi mesmo que restou? Aqueles cacos olham para mim, me lembram de rodopios de uma outra noite que não retorna. E de que me servem esses rodopios? O que era mesmo que eu queria ser? Me transformei num liquidificador de gente.... nem que tipo de gente sei mais que sou.... talvez agora eu faça parte dessa leva de gente perdida que rodopia pela noite e encontra garrafas vazias pelo dia. Entre madrugadas mal dormidas, dias arrastados e noites com risos, olhares e garrafas cheias eu me arrasto e espero o dia que surja uma nova Clarissa. Sem retornar ao passado recorro, como já está em meu sangue, a boas garrafas de Vodka, olhares, pessoas e lugares onde todo mundo é feliz.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Aos meus queridos amigos, que tornam a vida leve e gostosa...

L'amitié
de Françoise Hardy

Beaucoup de mes amis sont venus des nuages
Avec soleil et pluie comme simples bagages
Ils ont fait la saison des amitiés sincères
La plus belle saison des quatre de la Terre

Ils ont cette douceur des plus beaux paysages
Et la fidélité des oiseaux de passage
Dans leurs cœurs est gravée une infinie tendresse
Mais parfois dans leurs yeux se glisse la tristesse
Alors, ils viennent se chauffer chez moi
Et toi aussi, tu viendras

Tu pourras repartir au fin fond des nuages
Et de nouveau sourire à bien d'autres visages
Donner autour de toi un peu de ta tendresse
Lorsqu'un autre voudra te cacher sa tristesse

Comme l'on ne sait pas ce que la vie nous donne
Il se peut qu'à mon tour je ne sois plus personne
S'il me reste un ami qui vraiment me comprenne
J'oublierai à la fois mes larmes et mes peines
Alors, peut-être je viendrai chez toi
Chauffer mon cœur à ton bois

Tradução

Muitos de meus amigos vieram das nuvens,
Com o sol e a chuva como bagagem.
Fizeram a estação da amizade sincera,
A mais bela das quatro estações da terra.

Têm a doçura das mais belas paisagens,
E a fidelidade dos pássaros migradores.
E em seu coração está gravada uma ternura infinita,
Mas, as vezes, uma tristeza aparece em seus olhos.

Então, vêm se aquecer comigo,
e você também virá.

Poderá retornar às nuvens,
E sorrir de novo a outros rostos,
Distribuir à sua volta um pouco da sua ternura,
Quando alguem quiser esconder sua tristeza.

Como não sabemos o que a vida nos dá,
Talvez eu não seja mais ninguém.
Se me resta um amigo que realmente me compreenda,
Me esquecerei das lágrimas e penas.

Então, talvez eu vá até você aquecer
Meu coração com sua chama.


Feliz daquele que sabe reconhecer um amigo, feliz daquele que conta com um ombro para aparar suas lágrimas, feliz daquele que desfruta de abraços apertados e que dispõe de ouvidos atentos. Não sei o que seria da minha vida sem vocês, meus queridos. Fico por aqui e peço emprestado as palavras de Hardy.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Meu primeiro amor...

Ele tinha pernas e braços robustos. Me deitava numa rede e fazia uma cabana com o lençol e seu dedo. Me seduzia com caçadas admiráveis, bichos fantásticos e feitos heróicos. Aqueles momentos jamais retornarão. Não era santo! Longe de ser um homem bom, dedicava boa parte de seu tempo aos copos de cerveja, aos cigarros e a moças desocupadas e ingênuas. Eu estava longe de ser a única de sua vida, mas era uma das principais, era especial. Aos poucos ele deixou de ser um herói e se tornou um homem, e aquelas moças, eu já não as suportava, assim como os copos de cerveja que nunca tinham fim. Como pude amar esse homem? Mas amei. Seu corpo hoje é mais esférico que robusto e daqueles feitos heróicos resta apenas algo de patético, mas os copos de cerveja, esses ainda são seus companheiros favoritos e a fumaça dos cigarros ainda o envolve. Quanto a mim, me resta descobrir o que havia naquelas moças que o roubavam da nossa cabana, para que eu possa um dia roubar o homem de outra.

O motivo...

... e tudo se repete, os lugares são os mesmos, as pessoas também. Por mais que mude, tudo é igual. Mesma dor, mesmos sabores, mesmo coração. Mesmo, mesmo, mesmo... e repito sempre as mesmas travessuras daquela menininha que se escondia debaixo da mesa, da qual já nem tenho mais notícias.
Para que esse espaço? O mesmo cansa quando a gente o percebe. Como elásticos amarrados em seu corpo ele te puxa para um mesmo lugar, lugar da asfixia, do choro, do medo. Respondendo a pergunta, esse lugar é a saída do mesmo, é a criação de novas realidades. Como num espasmo, existe algo que brota, que pulsa, que corta as cordas do elástico. Apostando nisso, eu escrevo, pois o mesmo, já não o suporto mais... e como uma barata que corre de um sapato enfurecido eu corri para cá...